quarta-feira, julho 11, 2007

terceira crónica de inês

Apesar da cadeira de rodas, o sogro de inês é um homem realizado. Na trindade avó – pai – filho, ele ocupa o lugar do meio neste momento e, fora a estroinice das lutas com o pai por causa da herança que ia ser dada ao sonso afonso sanches, conseguiu o respeito sincero de todos os vizinhos pela actuação que teve na tal lide de tarifa e vingou a honra da santa mãe que tão pequena veio de aragão, triste e saudosa, convencida de que podia fazer milagres de paz e pão abençoado com pétalas de rosas, e está agora em santa clara intacta e serena. Quanto a dinis, já lhe foi visto o esqueleto e confirmada a dentadura completa que é a melhor prova de que gozou sempre de boa saúde enquanto viveu, e foi longa a vida. Mas afonso está de olhos voltados para o futuro e o futuro são os filhos. Tem pena, sinceramente, pena da filha como tivera da mãe, ambas chorosas pelo comportamento leviano dos maridos sem consideração pelo casamento. Os deveres de lealdade foram sempre de sentido único, delas para eles. E como o choro de um guerreiro é respeitado em silêncio, afonso não esconde as suas lágrimas de raiva quando fala das duas, nos momentos em que uma taça de vinho transborda em saudades pelo seu rosto austero e franco. O filho também o preocupa, nunca o conseguiu segurar. Arredio e brigão, não aceita nenhum conselho e, a léguas de distância (nem visita o pequeno fernando da legítima), mantém-se informado das movimentações à volta da herança enquanto aumenta a prol com aquela amásia inês. E por se lembrar que a aia de constança tinha uma costela de afonso sanches convocou os conselheiros para tirar umas dúvidas e auscultar opiniões.



foto: Quinta das Lágrimas, Coimbra


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