terça-feira, abril 01, 2008

sem rede




O filipe de quem falo disse um dia que foram os anjos que fizeram a catedral de burgos. Só eles podiam criar aquela harmonia, aquela elegância, aquele equilíbrio, aquela filigrana de pedra. Nem é preciso dizer que concordo plenamente com o rei, eu que acredito em anjos e fadas, só para falar das coisas boas, que procuro o silêncio das igrejas, que gosto de acender velas aos santos, que fotografo as velas como se fotografasse orações e votos, os meus e os dos outros, que vivo uma catedral como um filme cujo código domino toscamente embora considere que venho melhorando com a prática e que um dia a avaliação do meu modo de interpretar imagens será positiva, seja lá quem for que me avalie.
A cidade de burgos foi, portanto, desta vez, apenas a catedral e o caminho para lá chegar. El cid, o lendário herói, era omnipresente, mas jorge de burgos, do nome da rosa de umberto eco, veio-me à memória vezes de mais. Via-o no claustro, os olhos vazios, a boca a espumar. Um livro, como é possível comer um livro. E a proibição do riso, esse acto tão natural, muito mais natural que um telemóvel, extensão do próprio corpo segundo os entendidos da televisão, mas que perturbava o estudo, a ordem, a autoridade. Confunde-me aqui a questão do riso e da autoridade, e desvio o curso deste texto. Penso que jorge de burgos também deveria ter visto o riso dos alunos na escola do porto, porque ele era cego mas tinha a faculdade de ver, como sabem, e este riso corrosivo não cabe em nenhum tratado de aristóteles, real ou fictício, posto que o filósofo estudava a vida numa sociedade organizada e não numa selva, uma amostra da selva. Que atitude tomaria. É que comer um telemóvel não deve ser nada fácil.


foto: catedral de burgos
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