quarta-feira, abril 02, 2008

titã



Ao terceiro dia o museu rompeu a linha do tempo e revelou o verdadeiro sentido da viagem. Uma flor ou um barco leve de titânio desliza agora na memória com as coisas do surrealismo expostas nas salas do último piso, enquanto, nos andares de baixo, trezentos anos de arte americana se ofereciam palpáveis ao olhar dos visitantes. Ouro sobre azul, a cereja em cima do bolo (lugares-comuns, eu sei, mas úteis e facilmente transmissíveis). O monte everest também, sei lá se é um lugar-comum, a vénus de milo vermelha, enorme e tosca, que nos recebe tão logo passamos a entrada, ainda para mais duplicada, as tulipas da cor do arco- íris, a pop art, o pontilhismo, a solidão de hopper, o untitled de rothko, o pollock, outro pollock, o’keeffe. Depois o labirinto, sempre o labirinto, mais as musas do século vinte, a linguagem do vestuário, magritte, miró, dali, mais o seu casal com nuvens na cabeça, os painéis electrónicos verticais com a cotação ininterrupta do amor: i miss you i love you i cry i wait i try i can i die, a vertigem a cinquenta metros de altura. Uma pétala transparente, a única prova de que estive lá, flutua sobre o amplo átrio alheia à lei da gravidade e à curva do tempo. Vista do outro lado do rio, a aranha é uma tatuagem na pele escamosa e prateada do titã.

foto: museu guggenheim, bilbau

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